““…o Espiritismo procede exatamente da mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental.

CHICO XAVIER

Chico Xavier, Allan Kardec e a divergência astrológica

O espiritismo surgiu na França no século XIX, tem cerca de 15 milhões de praticantes no mundo e 4 milhões no Brasil, onde 40 milhões de pessoas também se declaram simpatizantes dessa doutrina, doutrina que se propõe a conciliar a ciência e a crença em Deus e na reencarnação.

Oficialmente, o Espiritismo nega veementemente a validade das premissas da astrologia, como fica claro pelo comentário de Allan Kardec registrado no capítulo V de Gênese, um dos mais de 20 livros escritos pelo autointitulado decodificador da doutrina:  

“Os grupos que tomaram o nome de constelações mais não são do que agregados aparentes, causados pela distância…Na realidade, porém, tais agrupamentos não existem…É ilusória a significação que uma supersticiosa crença vulgar lhe atribui…

Para se distinguirem as constelações, deram-lhes nomes como estes: Leão, Touro, Gêmeos, Virgem, Balança, Capricórnio, Câncer, Órion, Hércules, Grande Ursa ou Carro de David, Pequena Ursa, Lira, etc…

A crença na influência das constelações, sobretudo das que constituem os doze signos do zodíaco, proveio da ideia ligada aos nomes que elas trazem. Se à que se chama Leão fosse dada o nome de asno ou de ovelha, certamente lhe teriam atribuído outra influência.”

Porém, talvez por conta do conhecido sincretismo religioso do brasileiro, não é nada incomum encontrar quem seja espírita e recorra aos serviços de um astrólogo ou mesmo estude astrologia. Além disso, para muitos, uma resposta sobre o assunto dada por Chico Xavier é uma validação das premissas astrológicas, embora não seja a aprovação à sua prática.

Conforme está registrado no livro O Consolador, quando lhe perguntaram se os astros influenciam a vida do homem, sempre transmitindo o que lhe era ditado por Emanuel, seu mentor espiritual, Chico deu a seguinte resposta:

“As antigas assertivas astrológicas têm a sua razão de ser. O campo magnético e as conjunções dos planetas influenciam no complexo celular do homem físico, em sua formação orgânica e em seu nascimento na Terra…”

Para acrescentar logo em seguida:

…porém, a existência planetária é sinônimo de luta. Se as influências astrais não favorecem a determinadas criaturas, urge que estas lutem contra os elementos perturbadores, porque, acima de todas as verdades astrológicas, temos o Evangelho, e o Evangelho nos ensina que cada qual receberá por suas obras, achando-se cada homem sob as influências que merece”.

Kardec é figura central da doutrina em todo o mundo, tanto que o espiritismo também é chamado de kardecismo. O ariano Chico Xavier é o expoente máximo do espiritismo no Brasil, considerado um fenômeno da mediunidade, tanto que foi tema de muitos documentários e filmes, psicografou 412 livros, dos quais se dizia ghostwriter e cuja renda doou integralmente para atividades filantrópicas.

Para alguns astrólogos, é uma tentação pensar que talvez a divergência de opiniões se deva ao fato de Kardec ter uma visão baseada apenas no limitado conhecimento científico da época, enquanto a de Chico Xavier era mais ampla, já que ditada por Emmanuel, um mentor com alto posto na hierarquia espiritual.

Contudo, a honestidade intelectual nos obriga a admitir que não podemos afirmar isso e que a resposta de Chico admite apenas que os astros influenciariam o ser humano no plano físico, mas não no plano comportamental, nem em sua personalidade ou em seu destino.

Em seu mapa, vemos Lua exilada em Capricórnio na casa 12 em oposição a Plutão e quadratura com Sol e Mercúrio, o que indica uma primeira infância muito difícil e é comprovado por sua biografia. De família pobre, com 7 irmãos, órfão ainda criança, foi criado por uma mulher cruel, que o torturava psicológica e fisicamente.

Ele também tinha Júpiter, planeta da religiosidade e da justiça, na casa 9, em Libra, e Sol em quadratura com Netuno, o que é compatível sua mediunidade e dedicação ao próximo. Fica aqui nossa homenagem ao homem que foi um exemplo de abnegação, empatia e humildade, tanto que chegou a ser indicado ao prêmio Nobel da Paz.