Filho da Mãe

A universidade de Ohio apresentou recentemente os resultados de uma pesquisa sobre o envolvimento dos pais na criação dos filhos com até três meses de idade. Ao que parece, o trabalho buscava estabelecer relação entre a atitude da mãe e o comportamento observado no pai durante esse período. A conclusão foi a seguinte: o engajamento paterno depende, basicamente, não do espaço que ele se dispõe a ocupar, mas daquele que a mãe se dispõe a ceder. Que quanto mais bem preparada ela estiver para a maternidade menos irá admitir a “interferência” do parceiro nos cuidados com a criança.

Será mesmo?

Pesquisas geralmente apresentam dados muito objetivos para serem aplicados “a seco” na vida real. São uma espécie de retrato, um recorte da realidade e demandam, invariavelmente, uma interpretação. Há que se levar em conta, portanto, a época, cultura, classe social etc. Americanos, geralmente, tendem a certa simplificação quando tratam questões deste tipo. Por exemplo, poderíamos discutir o que entendem por “bem-preparada para a maternidade”. O “bom preparo”, nesse caso, tem como premissa o fato de que ter um filho é um plano conjunto e não só da mulher?

Entende-se normalmente que haja uma tendência natural de a mãe assumir os cuidados com o bebê. É inegável que o fato dela passar nove meses a gerar uma criança e amamentá-la às vezes por mais um ano a torna muito mais próxima desta do que o pai. Normal que seja assim. Contudo, a maternidade já não é vista como no passado. A mulher moderna já não a tem como único meio de realização. Competem com ela a estabilidade da vida amorosa, a realização profissional etc. Ter uma criança hoje em dia é muito mais uma escolha do que uma missão, e isso influencia diretamente o vínculo existente entre mãe e filho. Além disso, uma relação conjugal saudável deveria pressupor a inexistência de “controle total” em qualquer área, seja nos cuidados com a criança ou na administração do cotidiano do casal. Cabe ao pai, em caso de um “acesso de exclusividade materna”, garantir seu próprio espaço. Estes espaços são sempre negociáveis. Bastam boas conversas.

A pesquisa trabalhou também com a ideia de “parentalidade intuitiva”, segundo a qual alguns pais apresentariam e outros não. Algo como uma predisposição natural ao envolvimento com a criança. Acredito que exista, mas sempre levando em consideração o que disse anteriormente. Todos nós temos um olhar especial para nossos filhotes, mas esse olhar não é o mesmo para qualquer época, lugar ou cultura. O que chamamos hoje em dia de infância, por exemplo, é uma invenção relativamente recente. Crianças, até pouco tempo atrás, eram consideradas apenas adultos ainda não formados.

Os cuidados da mãe para garantia da participação do pai são, na verdade, decorrência de um projeto comum. A ideia de “termos um filho juntos” é bem diferente da ideia de “quero um filho pra mim”. Não faltarão possibilidades do engajamento paterno na criação do bebê, principalmente nos primeiros anos de vida, pois as demandas são imensas. Boba da mulher que vetar o envolvimento de seu companheiro, pois irá, inevitavelmente, acabar sobrecarregada.

Na verdade, esse período inicial de cuidados com o recém-nascido sempre foi um grande gerador de tensão entre os casais. Primeiro por conta da inexperiência, por não se saber ao certo se as escolhas que estão sendo feitas são as melhores para a criança, o que gera uma certa insegurança; segundo, justamente por ainda não estar decidido o nível de colaboração de cada um. Mulheres com o perfil de que trata a pesquisa geralmente são as que, em determinado momento, acabam reclamando da falta de “ajuda” do companheiro. Mas se refletirmos um pouco sobre o termo de que fazem uso elas próprias (ajuda), veremos que os papeis já estão consolidados antes mesmo do início do processo, pois o “ajudante”, no caso, não é considerado, nem por um nem por outro, o responsável pela empreitada.

O responsável não ajuda, faz o que lhe cabe.

Participação de pai é coisa importantíssima. Não apenas como modelo masculino, mas como um modelo de parceiro. Isso a criança levará pra vida inteira.

A melhor orientação que pode oferecer um terapeuta nessa situação é que o casal não esqueça de que nada melhor para o desenvolvimento de um filho do que a harmonia entre os pais.


Eder Jorge P. Ribeiro
Terapeuta Familiar