“Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor.”

Johann Wolfgang von Goethe

Na vasta obra de Goethe, entre as quais se destacam Fausto e Os sofrimentos do jovem Werther, há várias referências à astrologia, o que nos faz acreditar que ele realmente tinha interesse pelo assunto.

Afinal, um dos maiores nomes da literatura mundial incluiu a seguinte citação no capítulo I de Poesia e Verdade, sua autobiografia:

“Vim ao mundo em Frankfurt -le-Main, 28 de agosto de 1749, às 12 badaladas do meio-dia. A constelação estava feliz, o Sol estava no Signo de Virgem; Júpiter e Vênus estavam com Aspecto benéfico com ele; Mercúrio não estava desfavorável, Saturno e Marte estavam neutros; só a Lua – Lua Cheia naquele dia – exercia a força da sua reverberação, tanto mais poderosa quanto se iniciava a sua ‘hora planetária’…”

Nessa passagem, ele faz referência à Ciência dos Astros, descrevendo o que seriam as condições astrológicas dos planetas no dia em que ele nasceu.

Curiosamente, a descrição não corresponde às condições dos astros que observamos quando analisamos seu mapa.

Reparem que, com exceção do Sol em Virgem e da Lua cheia, os outros astros não formam os aspectos que Goethe cita:

• Vênus e Júpiter não formam aspecto com o Sol;
• Marte não está neutro, mas em trígono com o Sol;
• Saturno também não está neutro, mas em conjunção com o Ascendente e em Trígono com a Lua;
• Mercúrio está tensionado, em quadratura com Plutão, embora ele não poderia saber disso, já que Plutão só seria descoberto em 1930.

Há quem atribua tal discrepância a uma interpretação baseada não na posição dos astros, mas num método alquímico. Não sabemos. O que parece certo é que Goethe tinha uma visão multifacetada da astrologia, com interesse pelos aspectos simbólicos e filosóficos da prática, mas com certa reserva em relação à possibilidade de previsão.

Seja como for, o mestre das artes e ciências alemão fez alusões à astrologia em outros escritos e em sua correspondência, o que confirma que essa prática fazia parte de seu universo intelectual e cultural nos séculos XVIII e XIX. Por exemplo, em Fausto, sua obra-prima, Goethe faz referência aos astros para simbolizar a busca por conhecimento que permeia a narrativa.

É bom lembrar que o grande mestre alemão viveu no período em que se consolidava a separação da astrologia e astronomia e que ele tinha 31 anos quando a sociedade foi surpreendida pela descoberta de Urano, ou melhor dizendo, pela identificação de Urano, já que o planeta havia sido observado antes.

Em 1781, a ideia de uma ordem universal que tinha o número 7 como um de seus pilares, 7 dias da semana, sete cores do arco-íris, sete notas musicais e, até então, sete planetas, foi colocada em xeque. Urano é associado à tecnologia e ao que é novo, o que está totalmente em consonância inclusive com a forma como foi identificado.

No livro Conversações com Goethe, escrito na forma de diário por um discípulo do célebre escritor alemão, encontramos um comentário sobre Herschel, astrônomo que identificou Urano. Goethe diz: “Herschel era tão pobre que não podia comprar nem mesmo um telescópio, e teve de construir ele próprio o seu. Mas essa foi sua sorte, pois esse telescópio de fabricação própria era melhor que qualquer outro, e por meio dele Herschel fez suas descobertas”. Ou seja, além de ter sido o primeiro planeta a ser identificado com o uso de um telescópio, Urano exigiu que se usasse algo novo e muita inventividade.

Há também um entrelaçamento histórico curioso entre os dois personagens. Além de escritor, pintor e dramaturgo, Goethe contribuiu com trabalhos importantes em Ciências Naturais, em mineralogia, geologia, botânica e ótica. Seu trabalho mais conhecido na área é a Teoria das Cores. Ou seja, era artista e pesquisador, o que o aproxima de Herschel, que era músico antes de se tornar astrônomo. Aliás, ambos são citados num trabalho do Instituto de Física da Universidade do Rio de Janeiro como pesquisadores que contribuíram para a descoberta da mecânica quântica.

O pensamento e a vasta obra de Goethe influenciaram profundamente também a filosofia, a ciência e a cultura ocidental de forma geral.