JOSÉ SARAMAGO

A astrologia costuma despertar paixões antagônicas. De um lado, os que a utilizam e a defendem como uma ferramenta de orientação e autoconhecimento, do outro, os que a criticam implacavelmente e a veem como uma crendice ou, pior ainda, como um embuste para explorar a ingenuidade dos incautos.

Curioso é que às vezes nos surpreendemos ao descobrir que pessoas que jamais poderíamos imaginar se ocuparam do assunto, mesmo que brevemente. É o caso de José Saramago, que escreveu um poema cujo título é Signo de Escorpião. Isso mesmo, José Saramago, um escritor que, pelo que sabemos, provavelmente tinha uma visão crítica dos chamados fenômenos esotéricos.

Ele teria dito em certa ocasião que a astrologia é o “último refúgio do romantismo”, mas, pelo que consta, foi em tom irônico, Claro que não podemos afirmar que seu interesse pela astrologia tenha excedido a exploração poética do tema. Não há elementos para isso.

E a julgar por esta declaração dada à Revista Playboy em 1995, ele não acreditava num destino pré-determinado, inescapável, algo em que também não acreditamos e que não invalida a premissa astrológica: Estava à espera de que as pedras do puzzle do destino — supondo-se que haja destino, não creio que haja — se organizassem. É preciso que cada um de nós ponha a sua própria pedra “

O que podemos afirmar é que, em algum momento, o escritor português, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, ateu, cético, crítico, com aquele semblante grave, que afirmava que o pessimismo era uma reação à realidade do mundo, se interessou pelo tema e escreveu.

Signo de Escorpião

Para ti, saberás, não há descanso,
A paz não é contigo nem fortuna:
O signo assim ordena.
Pagam-te os astros bem por essa guerra:
Por mais curta que a vida for contada,
Não a terás pequena.

Podemos supor que Saramago tenha sido motivado a escrever um poema sobre Escorpião porque nasceu em 16 de novembro, ou seja, porque era deste signo, mas o que torna o fato ainda mais interessante é que ele também tinha Mercúrio, o planeta do intelecto e da comunicação, e Júpiter, planeta da fé e das convicções, nesse signo, levantando a suspeita que talvez conhecesse seu mapa.

E ele tinha Mercúrio e Júpiter na casa 8, em trígono com o ascendente Peixes, que recebe um trígono de Plutão e está em conjunção com Urano, configuração compatível com alguém hipersensível, dotado de muita empatia, com ideais até utópicos, mas denso, crítico, profundo.

Alguns sites de astrologia publicaram matérias nas quais fazem associações e traçam paralelos entre os signos e os temas recorrentes implícitos em sua obra, como a crítica às estruturas dogmáticas, a condição humana, a solidão e a necessidade de empatia.

Mas o que nos parece refletir com mais clareza a configuração de seu mapa são suas frases:

      • “A única maneira de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça, aparar-lhe as unhas não serve de nada.”
      • “Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia.” 
      • ” A nossa maior tragédia é não saber o que fazer com a vida.”
      • “É necessário sair da ilha para ver a ilha, não nos vemos se não saímos de nós.”
      • “Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais.”
      • “Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.”
      • “O difícil não é viver com as pessoas, o difícil é compreendê-las.”
      • “No fundo, o problema não é um Deus que não existe, mas a religião que o proclama. Denuncio as religiões, todas as religiões, por nocivas à Humanidade. São palavras duras, mas há que dizê-las.”
      • “Nunca esperei nada da vida, por isso tenho tudo.”

José Saramago, um autêntico escorpiano com ascendente em Peixes.