A Matemática da Criação
por Eder Jorge

Não são poucas as pessoas que pedem, a nós terapeutas, orientações e conselhos a respeito da criação de seus filhos. A tarefa não é simples, sabemos. Os “resultados”, se é que justo definir assim, nem sempre são os esperados e nossa tendência é encará-los como fracasso. Quando se trata de relacionamento humano, um mais um quase nunca é dois, apesar de nossas expectativas. A vida é assim. Em outros termos, baseados em nossos desejos, projetamos para os rebentos um devir quase matemático, onde pouco espaço sobra para o acaso, o indesejável. Como disse alguém (provavelmente um pai exasperado): “filhos não vêm com manual de instrução”. A frase diverte e reafirma a tentação que reside em nossas mentes em acreditar que possa existir uma lógica nos projetos que traçamos.

No fundo, a pergunta ao terapeuta é: Você tem o manual?

 A resposta é não, mesmo diante da possibilidade de enriquecimento instantâneo. Afinal, o que restaria para chamarmos de vida num mundo onde o controle fosse tamanho?

 As questões que envolvem nosso dia a dia, tais como: o filho adolescente que começa a beber, a criança que sofre bullying, a que pratica o bullying, o mau aproveitamento escolar são exemplares apenas na medida em que, de uma maneira ou outra, são comuns a todos nós. Ou seja, são questões próximas. Mas a semelhança para por aí. Se os problemas são comuns, as soluções estão bem longe disso. Estas, invariavelmente, dependem de um contexto, estabelecido na relação entre pais e filhos, pais e pais, pais e escola, escola e filhos, filhos e amigos… e por aí vai. Uma criança com necessidades especiais, educada num ambiente onde companheirismo seja um valor, não vive, definitivamente, problemas semelhantes a uma educada em ambiente onde competitividade seja a palavra de ordem.

Quando digo ambiente quero me referir não apenas à escola, mas também à família, aos amigos etc. E estes não possuem padrão fixo. Cada um de nós tem o seu.

Como, então, acreditar numa solução comum?

Parece-nos claro, portanto, que, quando se pede orientações e conselhos de como agir no enfrentamento de nossas crises e angústias, é necessário ao terapeuta enxergar-se menos como mestre ou profeta e mais como um ampliador de possibilidades, um gerador de movimento, e aos familiares menos como discípulos esperançosos e mais como agentes atuantes de um contexto próprio.

 

Eder Jorge P. Ribeiro
Terapeuta Familiar